A virada e as fatias de ano novo
Houve um tempo em que eu achava que um réveillon ruim me predestinava a um ano novo ruim; aí eu aprendi que não existem anos ruins - tampouco anos bons!
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Eu tinha uns 20 e pouquinhos anos quando comecei a ser obcecada por réveillon – e pelo efeito que aquela noite de virada supostamente teria nos meus próximos 365 dias. Começou pelo ano novo de 1998 para 1999, o primeiro que passava solteira na minha vida adulta: uma semana inteirinha de festas incríveis em um dos lugares mais lindos do estado do Rio, rodeada de amigas e tudo mais. Os doze meses que seguiram aquela data foram tão leves e festivos como ela (“você tinha 22 anos, Alessandra, a época – e não a virada! – fazia a festa!”, hoje eu enxergo).
Esta cultura do réveillon como a data mais importante da vida seguiu-se: a cada mês de novembro, era hora de decidir festa, roupa, viagem. Sim, eu fui uma jovem meio cabeça-oca-pós-adolescente e não me orgulho, mas também não me envergonho.
Até que me mudei pra São Paulo em 2006 e, meses depois, passei o primeiro 31/12 com meu hoje marido, na época namorado recente: tudo saiu fora dos planos, eu não gostava de onde e como estava, a virada não teve nada de festa e, ali, eu comecei a culpar o Rodrigo por arruinar meu 2007 inteirinho já em 1º de janeiro. O fato de ter sido de fato um ano desafiador fez desta uma profecia autorrealizável.
Formei, na sequência, a "superstição" de não virar no Rio, pelos anos esquisitos de 2008 e 2011, os únicos da vida adulta que comecei na minha cidade natal; ao ponto de em, 2014, ir embora no dia 29 de dezembro para SP para voltar uma semana depois, já que meia dúzia de passagens de avião (já éramos três em casa) compensava mais do que o destino de doze meses descompassados.
Eis que, então, comecei a ter réveillons absolutamente cotidianos. Seguidos por anos igualmente cotidianos. E foi, pouco a pouco, me caindo a ficha de que o mito do ano novo era sobretudo o mito do ano perfeitamente bom: ele não existe nem nunca existirá. Os anos reais são tão cotidianos quando uma virada em casa em SP, vendo pela TV os fogos e pelo insta as festas. Anos reais são uma punhada de fatias, algumas deliciosas, outras bem amargas, e a maioria algo que não está em um extremo nem em outro.
Comecei 2023 com uma intoxicação alimentar por ostras (não recomendo!) que me fez duvidar se eu conseguiria ter os próximos 364 dias na terra. Dei início a 2024 no Rio, com direito aos maravilhosamente caóticos fogos de Copacabana, e no dia 1º estava de cama, com uma febre da gripe que peguei da minha filha. Estes fatos não definiram meu 2023 nem meu 2024, anos montanha-russa (não é isto, afinal, a vida adulta?) com altos, baixos, curvas e até loopings. Anos bons, ruins, engraçados, amedrontadores, perdedores, vencedores, superados, tudo ao mesmo tempo alternadamente.
2025 começou em família, também no Rio, rindo de histórias do passado e vendo o famoso espetáculo dos fogos virar fumaça em um minuto e meio. Isto também não definirá meu 2025.
O novo ano não tem a cara da noite de ano novo, como eu supunha; ele será, ao fim, visto sob a perspectiva que a gente escolhe dar a ele – geralmente pautando-o muito mais por um ou dois acontecimentos (bons ou ruins) eleitos do que por sua real visão geral! Assim sendo, sinto-me pronta para colocar os óculos da Riotur e fazer do meu 2025 algo tão colorido e instagramável como a foto dos primeiros segundos de fogos em Copacabana.
É com pot-pourri de dicas que a Daily 40s começa 2025…
… e o que te ofereço nas minhas publicações é isto: uma curadoria de assuntos variados, com TOTAL isenção comercial e olhar pessoal! Todo o conteúdo que você lê aqui ou na é livre de anunciantes e parcerias, com uma visão 100% espontânea. Do produto de beleza à marca de moda, do profissional de saúde ao lugar que merece a visita, nenhuma dica foi encomendada por uma empresa nem partiu de um briefing externo – tal e qual era nos blogs de 2007.