O que é, como nasceu e por que fiz este Daily!
Depois de passar mais de uma década com pânico de ser vista como fútil, fiz as pazes com uma parte de mim que sempre existiu – e ela é fútil!
(ilustração: Nice Lopes para ItGirls/2009)
Tive um blog de moda numa época em que não havia grandes plateias para blogs de moda – ao menos não no primeiro ano e meio dele. Não havia haters de blogs de moda, questionando e apontando o que era ou não digno de virar assunto. Não havia régua de relevância, cobrança por utilidade (palavrinha tão subjetiva) ou julgamentos sobre o limite de um simples recreio.
A roda girou, o mundo mudou, a visibilidade aumentou. E nada, nenhum xingamento ou crítica me pegava mais do que… “isto é fútil". E ninguém precisa ser phd em psicologia pra saber que a crítica que nos afeta é aquela que toca em algo que de fato temos. Em algo que no fundo – ou no raso – somos.
Nos meus 20 e poucos eu era uma menina fútil. Só fútil. Imatura, com questões emocionais não tratadas (na época, nem sequer percebidas por mim), me refugiava na futilidade. Foi só quando, ainda nesta época, comecei a compreensivelmente ser – mal – julgada por isto que entendi que era errado, feio, inadequado. E, sim, eu concordo que podia ser mais… Mas exagerei ao cair no extremo oposto, aquele que foge de qualquer possibilidade de julgamento de futilidade. E desde então fujo (fugia) do julgamento da futilidade como um vampiro foge do sol. Não era mais a menina de 23 e não queria que NINGUÉM percebesse que parte dela ainda estava muito viva dentro de mim.
O tal blog de moda de 2007 existia, mas na paralela de uma carreira convencional para a qual eu dava o sangue, as lágrimas. Trabalho tinha que ter sofrimento e recreio é só… um recreio. Até aí tudo bem, o lance é que eu fui indo mais e mais para o extremo, depois que eu deixei de me identificar com o blog e com o mundo do qual ele fazia parte. Precisava ser séria, precisava escrever coisas inteligentes, precisava produzir apenas aquilo que levasse alguém a melhorar na carreira, nos negócios. Tudo bem escrever com prazer e de forma leve, mas o tema central precisava ter um ~propósito. Algo além de um creme, uma tendência, uma peça-desejo.
Aí veio a geração Z com sua tendência Daily – instagrams nos quais eles compartilham suas futilidades – me ensinar que… tudo bem ser fútil. Eu sou. Sempre fui, sempre serei. Não sou só fútil, mas sou também fútil. E, de repente, dentro das minhas futilidades podem existir algumas utilidades. Mas fiquei ok com não ser a mais inteligente (e menos fútil) do rolê!
A Ale do mês passado ia usar este parágrafo explicando como e por que não sou só fútil, o que existe na paralela e coisa e tal… mas minha versão 17.10.23, às custas de dois anos de terapia*, entende o papel da frescura. E o quanto ela pode ser mais necessária exatamente quando a vida não anda tão leve.
*(crédito da frase-slogan “não é frescura, é frescor” inteiramente para minha psicóloga, que explicou que alguém que teve um começo de vida “pesado” como o meu precisa deste frescor enquanto o cérebro não está preparado para lidar com questões tão complexas.)
Por fim, cito outro arquivo que me trouxe até este canto. Dias atrás, encontrei um “diário de SPFW” de janeiro de 2009. Eu trabalhava no site da RG Vogue e não teria tempo de cobrir o evento para o ItGirls, já que 99% da minha energia estava na Vogue. Então fiz um diário com pequenas pílulas, nas quais contava meus dias (daily!), com pitadas de dicas, bastidores e observações da semana de moda no meio – vou repostá-lo a seguir. É o esquema que quero trazer para cá, neste momento em que o Daily no insta não teria sentido pra alguém que está louca para abandonar o insta.
Como sempre, naquele esquema: não é trabalho, não tem pretensões, é mais pra mim do que para os outros e pode flopar ou engrenar. Mas a Ale fútil de 1999 saiu do armário pra falar de moda, de beleza, de besteiras e do que mais vier à mente. Nem sempre vai ser (só) frescura, mas vai estar sempre mirando no frescor. Naquele recreio que todo mundo precisa. E de recreio (acho!) eu entendo…
Em tempo: a Amo News (meu trabalho!) continua como sempre foi e segue firme e forte. Para cá vou fugir sempre que puder, sempre que precisar.
Leve e delicioso esse espaço!
Aaaah como é delicioso um espaço desse! ❤