A música que emociona e cura
Precisamos de todos os tipos de arte: elas são uma espécie de antídotos para os tempos duros e difíceis, mas também uma oportunidade de reencontro com nossa própria alma!
{Experimentando o modelo de crônica pessoal neste Daily, deixando vir à tona pensamentos altos que ficaram meio sem espaço nesta minha fase – quase – sem redes sociais!}
Eu nunca fui a pessoa de dar tanta atenção a premiações de música ou cinema: não faço a lista dos indicados ao Oscar para assistir a tempo, nunca sei bem as categorias – e a importância de cada uma delas – do Grammy e só sei a data destes eventos no dia em que eles estão acontecendo e inundando de posts as mídias. Não foi diferente no Grammy 2024. Foi só no dia seguinte, navegando pelo Tiktok, que me deparei com a linda e inédita vitória de Miley Cyrus e me encantei pelo seu discurso e sua alegria na comemoração, há nove anos em modo de espera. E me emocionei com suas palavras e seu brilho.
Foi também apenas no dia seguinte que vi que Taylor Swift bateu um recorde (mais um), ganhando o álbum do ano pela quarta vez, em uma categoria muito importante. Vi que foi uma noite dominada por mulheres, de Celine Dion – há dois anos afastada da mídia por questões de saúde – entregando prêmio até Oprah cantanto a plenos pulmões na plateia. Isto, claro, sem contar com as premiações em si. Uma informação completamente aleatória, mas Taylor e Celine são as responsáveis pelos dois shows mais especiais e inesquecíveis aos quais assisti na vida. Eu, uma pessoa não habituée de shows (não por não gostar, mas por ter problemas com multidões), tenho na caixinha de highlights da vida Taylor no Allianz 2023 e Celine em Vegas 2011, com um amigável dólar a dois reais!
A emoção transbordou mesmo – pra mim – quando Tracy Chapman e Luke Combs subiram ao palco para cantar Fast Car. A música, lançada originalmente pela primeira cantora em 1988, me teletransportou para a 6ª série da escola. Eu mal sabia inglês, mas cantava a letra de cabo a rabo. Aquela apresentação no Grammy não levantou apenas Taylor, a estrela dos tempos musicais atuais, mas também a alma da Ale de 11 anos e todas as memórias a este tempo atreladas.
Este é o poder da música. Ela nos teletransporta para fases, para pessoas, para acontecimentos. Felizes ou, por vezes, tristes. É pelo meu fone com isolamento acústico intenso que eu encontrei prazer na musculação: meu Aleverso, como costumo chamar o período de uma hora no qual me sinto isolada do mundo ao redor com minhas playlists do coração.
É nos fones que meu eu introvertido se recupera tantas vezes. É na música que me lembra de amigas que nem mais fazem parte da minha vida que eu mato saudade da jovem baladeira de 23 anos que um dia fui. É num show do DJ Marlboro no BBB ou do É o Tchan no Altas Horas que eu lembro de quem eu era e de quem eu provavelmente sempre serei: a pessoa que sobe no sofá e dança todas as coreografias até o fim – certamente sentindo mais os joelhos do que sentia em 1999. É naquela lembrança aleatória do Apple Music que lembro da existência de uma pessoa que foi tão importante há quase três décadas, antes de eu descobrir na terapia o quê de toxicidade que havia na relação. Não importa: se é sentido, faz sentido; se recupera memórias, me lembra de quem fui e sou.
Música é arte, é emoção, é terapia. E matar a saudade de si. É, talvez, meu tipo favorito de arte – empatado com a escrita, claro. Ler crônicas pessoais de vizinhas substackers ou trechos do diário de Virgina Woolf também me traz conforto. Assistir a um músical no teatro e até a um filme infantil no cinema me lembra de como a arte é importante em todas as suas formas. Ela nos tira do automático e ao mesmo tempo nos desperta gatilhos de tempos que não voltam. A arte me ajuda a matar a saudade de mim mesma. Um brinde a ela.
p.s. e, claro, amanhã na academia é Fast Car no repeat!
Realmente eu tb fui tele transportada para o passado quando ouvi fast car no Grammys. Incrível o poder da música, a letra forte, “me myself I gotta nothing to prove!!” And I gotta a feeling I could be someone!!” O impacto dessas duas frases tão fortes durante a infância nos levaram a acreditar que no matter what, we could be someone!! 🩷🙏
Ouvir música enquanto faz musculação é uma baita maneira de tornar a atividade mais "realizável", concordo plenamente, Ale!