A moda e a nostalgia
Será que o vai e volta das tendências de moda tem a ver com o quê nostálgico que ela pode despertar na nossa história?
Eu não sei quem me conheceu na(s) minha(s) vida(s) passada(s), mas eu sou uma pessoa que já mudou muito - de profissão, de estilo, de carreira, de prioridades.
Sou ex-carioca, ex-administradora, ex-editora de revista, ex-blogueira de moda e costumo achar que sou melhor ex do que atual em muitas coisas. Mas, tal e qual tendências de estilo, vira e mexe eu sinto vontade de voltar para algum canto do meu passado. Tal e qual as ombreiras dos anos 90 estiveram por aqui de novo dia destes ou o jeans semi-baggy do meu ensino médio insiste em reaparecer nos tempos atuais.
Eu já andei - quase - exclusivamente de salto. Depois, antes mesmo que elas entrassem de fato na moda, virei a caçadora de sapatilhas - uma necessidade básica para uma mulher de quase 1,80 que tinha uma queda (carma?!) por homens não tão altos. Não faz tanto tempo assim, colecionei mocassins e rasteiras. Hoje? Sou esta da foto que ilustra o texto: em 90% das ocasiões estarei de tênis com um quê bruto! E a onda da vez é recomprar alguns dos clássicos que eu usava na adolescência: não é meu ascendente canceriano que é nostálgico, é a própria moda em seu looping de reedições.
Entre estilos, mudanças e sapatos eu tenho namorado muito a ideia de escrever sobre moda de novo. A síndrome da impostora (que quase sempre é barrada pelo Sol em leão) insiste em dizer que não tenho mais credenciais para tal e que, faz tempo, minha praia é outra. Mas num ato de autoanálise eu acho que, no fundo, o problema é outro.
Olhar de novo para a Ale das modas me leva para os anos 2000: a menina realizando sonhos em empregos desejados, a mulher que chegou a SP com algumas malas e muito brilho nos olhos, vendo que tinha um mundo de possibilidades à frente, a pessoa que saiu inventando para si espaços que nunca lhes foram dados de mãos beijadas - na cidade, na carreira, na turma da moda. Aquela do blog, aquela do livro de capa preta e rosa, aquela que se esforçava todos os dias para não perder o encantamento e tornar-se só mais uma blasé. E olhar para os anos 2000 me alegra e me perturba ao mesmo tempo, porque hoje eu sei a consequência de cada escolha feita ali.
A verdade é que caminhei para muito longe da moda, mas nunca apaguei os registros dela em mim. Aqui estão uma coleção de september issues do auge da Vogue americana, entre 1996 e 2016 e outra coleção de livros que, descobri outro dia, valem muito dinheiro por terem se tornado raros. Aqui mora uma gaveta de acessórios - desde sempre, minha editoria favorita -, quase nunca usados, mas sempre admirados. Aqui está a mulher que vive de roupa de ginástica, mas não deixa que isto signifique falta de styling jamais. Aqui estão a Ale 2004 e a Ale 2024, juntinhas e tentando fingir que nem se conhecem.
Procrastinar os posts deste meu canto digital tem um pouco de tudo isto misturado. Medo, saudade, vergonha, alegria, ansiedade e até tristeza - quase um Divertidamente 3.0, eu diria. Mas se dar-se conta de algo costuma ser o primeiro passo para resolver este “algo” internamente, talvez eu aproveite esta ferramenta beta que deixa a gente escrever no Substack pelo app e… reviva este Daily 40s com toda a paixão por moda, beleza e estética que nunca saiu daqui!
obs. post dedicado para a Ale dos SPFW de 2006 e 2009 com carinho…
Qdo cheguei na frase " eu tenho namorado muito a ideia de escrever sobre moda de novo" já vim aqui pra registrar meu voto: VOLTAAA!! amo seus textos, e vc tem uma história super interessante na área que te permite ir e voltar quantas vezes quiser! Se inspire na sequência de O diabo veste Prada que levou 18 anos para acontecer! Estou esperando
Entre Glória e Constanza PQP, época que as It Girls venceram mesmo